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Mercado pet brasileiro .

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Estimativa do Instituto Pet Brasil representa crescimento de 5,4% ante 2018 e põe setor no segundo lugar do ranking mundial

O mercado pet brasileiro pode encerrar o ano com um faturamento total de R$ 36,2 bilhões, de acordo com estimativa do Instituto Pet Brasil. O valor representa uma alta de 5,4% ante 2018, quando o setor arrecadou um total de R$ 34,4 milhões. Com o avanço, dados recentes da Euromonitor indicam que o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se coloca como o segundo maior comércio de animais de estimação do mundo, com 5,2% de participação. Na liderança da lista estão os Estados Unidos, com 40% de contribuição.

Claramente a distância entre Brasil e Estados Unidos é grande no que diz respeito à participação econômica no setor pet. E para crescer, o maior país da América Latina enfrenta alguns entraves. De acordo com o Instituto Pet Brasil, o principal obstáculo para que novos avanços aconteçam é o alto imposto aplicado no território. Afinal, entre PIS/Cofins, ICMS e IPI, a cada R$ 1 cobrado do consumidor final, mais de R$ 0,50 são apenas impostos. O pet food, por exemplo, é considerado pelo sistema de tributação como um ‘produto supérfluo’.

“No nosso entender, a importância dos animais de estimação no convívio familiar se transformou muito, e o alimento destinado a eles é essencial para a manutenção da saúde dos mesmos”, disse o vice-presidente de comércio e serviços do Instituto Pet Brasil, Nelo Marraccini. "

Essa importância do pet no convívio familiar mudou mesmo com o passar dos anos. Tanto que já em 2013 o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estimou em sua Pesquisa Nacional de Saúde a existência de 52,2 milhões de cães domésticos no país, o equivalente a 1,8 animais por domicílio. Mas esse número não estagnou. Pelo contrário, só cresceu.

Mercado pet brasileiro, ricardo tamborini, adestrador, especialista em comportamento canino, melhor, brasil

Dados do Instituto Pet Brasil indicam que atualmente existam no país 139,3 milhões de animais de estimação. Desses, 54,2 milhões são cães, enquanto 39,8 milhões são aves, 23,9 milhões são gatos, 19,1 milhões são peixes e 2,3 milhões são répteis e pequenos mamíferos. Como um todo, os pets que ampliaram sua participação nos lares brasileiros desde 2013 foram os felinos, os quais garantiram uma alta de 8,1%.

Ainda assim, como mostram os números, o cão é o animal que ainda garante maior presença nos lares brasileiros. Isso acontece porque, ainda hoje, a cultura de que o cão é o melhor amigo do homem e a crença de que gatos apenas dormem e são frios ainda regem a decisão de muitas pessoas no momento da escolha por um pet. “Os felinos passam também por muito preconceito de fundo religioso, pois no passado foram considerados animais de bruxas”, lembra a especialista em comportamento humano, Karen Nogueira.

Do lado mercadológico também existem explicações para essa ampla participação dos pets na vida das pessoas. Segundo o especialista em neurociências aplicado a negócios, Alexandre Michels Rodrigues, a presença de animais evoca em humanos um tipo de ‘inveja’ inconsciente, pois os bichos são vistos como seres que se relacionam perfeitamente com o meio ambiente.

Mas não só por isso, afinal, eles são parte do ser humano.

Desde a antiguidade, os cães, por exemplo, auxiliavam os homo sapiens a expulsar os Neandertais de seu habitat. Na cultura egípcia, porém, os gatos eram venerados. Na atualidade, além de os macacos e as vacas serem endeusados na Índia, a águia assume a posição de símbolo americano. “Animais, portanto, são parte do ser humano. E por nos abastecer de condições especiais que valorizamos, como companheirismo, dependência, fidelidade, proteção e conforto, temos tanto encantamento por eles”, explica Rodrigues.

Isso esclarece o motivo de muitas pessoas colocarem o gasto com pet à frente de outros consumos anteriormente tidos como prioritários. Afinal, o brasileiro investe, em média, R$ 338,76 mensais com cachorro e R$ 196,56 com gatos. Os números indicam que as pessoas depositam, no caso dos cães, aproximadamente 34% e, no caso dos felinos, perto de 20% do salário mínimo, que atualmente é R$ 998.

“Além do fator ‘bonitinho’ existe um elemento ‘funcional’ quando se adquire um animal de estimação. Portanto, não é difícil imaginar que obter um pet traga, de certa forma, muito mais benefício ao ser humano do que fatores como, por exemplo, jantar fora ou fazer academia”, esclarece o especialista em neurociências aplicado a negócios, Alexandre Michels Rodrigues."

Essas explicações vão de encontro com o senso populacional estimado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para 2020, o qual indica que desde 2010 a população brasileira teve um leve aumento, de aproximadamente 1,11%. Enquanto isso, em seis anos o contingente pet cresceu perto de 0,3%. Isso se comprova com a estimativa do instituto, que prevê que em 40 anos o Brasil terá mais idosos do que jovens.

Esse fenômeno pode ser explicado pela rotina acelerada e tecnológica em que a sociedade está sendo submetida. Cada vez mais se tem menos tempo hábil para fazer coisas banais como fazer a própria comida. E os animais entram nessa nova realidade como algo que reduz o estresse, aumenta a tranquilidade e, consequentemente, melhora o bem-estar.

“Trazendo para o cenário da sociedade atual, pode ser que muitas pessoas avaliem os animais como vulneráveis, independentemente de sua idade, quando comparados a humanos adultos. Em outras palavras, os animais, jovens ou adultos, são vistos como possuindo muitas das mesmas qualidades associadas aos bebês humanos, mas são bem mais fáceis de cuidar”, explica o presidente do Instituto Brasileiro de Coaching, José Roberto Marques."

Os pets, portanto, estão imergindo cada vez mais na construção familiar, assumindo funções que vão muito além que a de meros bichos de estimação. Mas os dados mostram algo curioso. Dos R$ 36,2 bilhões de faturamento do mercado pet estimados pelo Instituto Pet Brasil para 2019, o segmento de Pet Care é um dos que menos contribui com esse montante, representando meros 5,1%. Ainda assim, o comércio está atento a essa fatia do mercado. Tanto que uma das primeiras exposições a preencher a Japan House, em São Paulo (SP), tinha o intuito de mostrar mobiliários pensados para os cães.

Presente no espaço durante os quatro primeiros meses deste ano, a chamada Architecture for Dogs: Arquitetura para Cães mostrou aos visitantes 15 projetos pensados para os animais. Com curadoria de Kenya Hara e desenvolvimento da Imprint Venture Lab, empresa de investimento e consultoria, a exposição tinha mobiliários pensados para cada tipo e espécie de cachorro.

Raças como Beagle, Poodle, Yorkshire Terrier, Dachshund e Pug foram algumas das prestigiadas na mostra. Mas o curador não se atentou ao detalhe de que, no Brasil, o cachorro mais presente nos lares, de acordo com estudo feito pelo Instituto Qualibest em 2017, é o vira-lata.

“Acreditamos que as pessoas prefiram os vira-latas porque, além de esses cães terem uma história normalmente mais trágica e sofrida, eles não têm questões genéticas provenientes das cruzas indesejadas visando estética”, supõe a voluntária da ONG Amigos de São Francisco, Stéphanie Schürmann. “Ou seja, os vira-latas tendem a ficar menos doentes e viverem muito mais que os cães de raça”, conclui Stéphanie.

Independente da raça escolhida, o que a exposição Architecture for Dogs: Arquitetura para Cães mostrou foi a nova realidade dos cachorros domésticos. Em muitos domicílios, eles agora não têm mais limitações para circular e são considerados por seus tutores como filhos, recebendo ainda mais atenção e cuidados extras. O importante, neste caso, é saber quais são os tratamentos indispensáveis para que o cão tenha uma saúde adequada, os quais podem ser:

Fonte: Ricardo Tamborini / Jornal O Prefácio

Ainda que o cão tenha livre acesso aos cômodos da casa assim como total atenção por parte dos donos, existem casos em que o pet se torna até mesmo a sombra do tutor, o acompanhando em cada movimento e, consequentemente, se tornando inteiramente dependente da presença do mesmo.

Esse cenário, porém, não afeta somente o animal. Afinal, muitas pessoas deixam de ter uma vida social por estarem preocupadas com o cão que ficou sozinho. Esse fenômeno é conhecido como Ansiedade de Separação. “O cão não nasceu com isso, mas lhe foi ensinado que onde o dono estiver ele deve estar junto”, explica o adestrador e especialista em comportamento canino, Ricardo Tamborini.

Outra coisa que é originária desse fenômeno é a necessidade de o animal estar sempre recebendo zelo. É aí que, segundo Tamborini, entra o bem-estar animal, que nada mais é do que atividades oferecidas ao pet para que ele tenha como se ocupar enquanto o dono estiver fora. Afinal, se não houver distração, o animal buscará algum meio de se entreter e, ao mesmo tempo, chamar a atenção do tutor, o qual muitas vezes não aplica ou chega a dar bronca no momento errado e acaba incentivando o pet a repetir o ato.

“Os donos, portanto, não estão sendo racionais e, sim, agindo pelo lado emocional. Isso está dando muito problema no comportamento dos cães”, critica o adestrador e especialista em comportamento canino.

Adoção X Compra

Mercado pet brasileiro, ricardo tamborini, adestrador, especialista em comportamento canino, melhor, brasil

No entanto, antes mesmo de o pet integrar a nova família surge um dilema: O bicho de estimação deverá ser comprado ou adotado? Essa é uma dúvida recorrente para grande parte das pessoas que pensa em adquirir um animal. Porém, uma recente estimativa do Instituto Pet Brasil revela que a venda de bichos domésticos tem projeção de chegar a R$ 04,41 bilhões ainda neste ano.

Já em 2017, contudo, um estudo feito pelo Instituto SPC Brasil avaliou que, dos 796 entrevistados, 42% adotaram enquanto 32% escolheram comprar um animal doméstico. A diferença ainda é pequena e novos fatores sociais podem estar contribuindo com isso. “A adoção hoje está cada vez mais difícil, principalmente para os animais de porte médio e grande. Isso se deve à verticalização das casas, que, especialmente em São Paulo (SP), estão dando lugar a edifícios, onde o espaço é mais restrito”, explica um dos diretores da ONG Cão Sem Dono, Vicente Define.

Mais do que esse desafio, o Brasil, especialmente, abriga outro complicador: a quantidade de animais de rua. Dos 54,2 milhões de cachorros, um total de 20 milhões ainda está vivendo na rua. Para Define, essa quantidade corresponde a animais que não necessariamente foram abandonados. “Nós (da ONG Cão Sem Dono) acreditamos que a maioria dos animais que vivem nas ruas hoje corresponde a bichos perdidos, pois são soltos pelo dono e não encontram o caminho de volta para casa”, supõe.

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Por sua vez, erradicar o problema pode ser outro desafio maior ainda. Mesmo com ONGs como a própria Cão Sem Dono, Amigos de São Francisco e AMPARA Animal, é preciso ter ajuda dos órgãos competentes, pois sem eles não haverá resultado satisfatório. Segundo a voluntária da ONG Amigos de São Francisco, Stéphanie Schürmann, as medidas a serem tomadas são simples. “Algumas atitudes possíveis são colocar altos impostos para a compra de animais com o intuito de coibir sua prática e torna-la mais fiscalizada, custear mutirões de castração para toda a população de animais domésticos, incluindo os que estão na rua, e punir fortemente tanto o abandono quanto o mau trato”, sugere. “É uma matemática simples, que só não é feita por falta de priorização”, finaliza.

Porém, nem sempre os maus tratos são feitos apenas pelos donos. Por vezes, eles podem ser exercidos até mesmo pelas próprias ONGs que se dizem auxiliadoras e protetoras dos animais. É o que levanta uma antiga voluntária do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de Taubaté (SP), Agnes (nome fictício).

Ela relata que, durante seu tempo de contribuição no local, presenciou casos suspeitos de sacrifício.

Um caso especial, segundo ela, aconteceu com uma cadela que estava pensando em adotar e que, em fração de um dia, foi sacrificada pelo aparente motivo de ter contraído cinomose. Outro episódio ocorreu com um pastor belga que foi morto por precisar usufruir de antibióticos. “Minha intenção lá era melhorar tudo, ajudar. Mas vi que não seria possível”, lamenta Agnes.

Em situações como essa, pode acontecer também de o animal contrair certos comportamentos difíceis de serem corrigidos, mesmo quando o pet ganhar outro lar. Isso pode gerar dúvidas nos tutores com relação ao serviço a ser empregado na educação do bicho de estimação, se um adestrador ou um especialista em comportamento. Mas existem grandes diferenças entre um e outro.

O adestramento funciona para ensinar ao pet comandos de obediência, como sentar, deitar ou fazer truques, ou ainda a exercer funções de guarda e proteção. Já o comportamento é a bagagem de vida que o animal carrega e que precisa ser moldada ao novo ambiente em que o bicho de estimação está sendo inserido. “O cachorro não pediu para ir para casa, foi o dono que escolheu. E nesse momento, o tutor também está levando a responsabilidade de educar o cão, algo que não tem como transferir para outra pessoa”, comenta o adestrador e especialista em comportamento canino, Ricardo Tamborini.

Quando dentro de casa, os pets são submetidos aos mais diversos mimos, desde banhos a cuidados estéticos. Com isso, a comodidade ultrapassa o âmbito humano e atinge também os animais de estimação. Dessa forma, segundo o vice-presidente de comércio e serviço do Instituto Pet Brasil, Nelo Marraccini, tem se observado o surgimento de padarias com produtos pets exclusivos, além de hotéis, cafés e bares que aceitam a entrada de animais domésticos.

Esses cuidados que estão sendo atribuídos aos pets são apenas um indicador de transformação do comportamento da sociedade. Outro ponto pode ser a correria dos grandes centros e a falta de tempo, fatores que não impedem a aquisição ou adoção de um animal de estimação, mas norteiam a decisão da pessoa sobre qual animal doméstico escolher.

“Mesmo com pouco tempo para dispor no cuidado, nós humanos ainda gostamos de ser o centro das atenções, aquele que cuida. Por isso, queremos ser destaque e conquistar a máxima admiração do pet. Portanto, acredito que o cachorro cumpra mais esse papel”, comenta o presidente do Instituto Brasileiro de Coaching, José Roberto Marques.

Foi consultado como fonte de entrevista para essa matéria - Ricardo Tamborini que é - Adestrador e especialista em comportamento canino
www.ricardotamborini.com.br

 

Veja essa matéria no site do jornal O Prefácio

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